REVISTA VEJA SEGUIU TENDÊNCIA SENSACIONALISTA E PUBLICOU INVERDADES SOBRE A MORTE DE BRITTANY MURPHY
Sabe-se que a tragédia de Brittany Murphy foi ruim não somente porque abreviou a vida de uma personalidade fantástica e admirável - e muito, muito bonita e fascinante - como alimentou o apetite sensacionalista de setores da imprensa que vivem da cobertura de escândalos e factoides.
A cobertura norte-americana tenta nos fazer ignorar que Brittany tinha um grande talento de atriz e cantora, era uma produtora esforçada, uma cantora brilhante e, como pessoa, era uma moça alegre, divertida e generosa, para inventar uma imagem negativa à atriz que encerrou sua vida poucas semanas após completar 32 anos.
No Brasil, a revista Veja é famosa por sua linha editorial rabugenta em todos os aspectos. No noticiário político, a publicação da Editora Abril é notória pelo seu reacionarismo acima dos limites toleráveis em uma democracia, defensora de um golpismo extremo que condena todos os movimentos sociais.
LIXO DESPEJADO NA SEDE DA EDITORA ABRIL, QUE PUBLICA VEJA, MOSTRA O GRAU BAIXO DE EMPATIA QUE O PERIÓDICO TEM ENTRE O GRANDE PÚBLICO.
Na exploração das tragédias humanas, a revista que condena a representatividade social, defendida pela Constituição brasileira de 1988, por parte de operários, estudantes, trabalhadores rurais e até homossexuais - todos, na melhor das hipóteses, só merecem ser representados por marionetes dos investidores norte-americanos - também não é muito generosa com os falecidos.
É só ver os casos das edições de 1982, sobre a morte de Elis Regina, e de 1990, sobre a de Cazuza (falecido com a mesma idade de Brittany, 32 anos), para ver o grau de sensacionalismo e morbidez com que tais óbitos foram reportados.
Com a de Brittany, então, a coisa não teria sido diferente. Além de seguir a pauta da imprensa sensacionalista que descreve a atriz como "desequilibrada" e "pouco talentosa", a Veja, em reportagem de 30 de dezembro de 2009, publicou inverdades sobre os últimos acontecimentos da atriz.
Quanto ao vício de remédios, Brittany foi uma das vítimas do mercado farmacêutico, porque ele mesmo estimula as pessoas a tomarem alta dose de remédios, forçando o paciente a consumir e comprar mais. A escritora Liz Gilbert já citou esse problema no livro Comer, Rezar, Amar (Eat, Pray, Love), de 2006.
As mentiras sobre Brittany dão por conta de que ela teria sido cortada do elenco de The Caller por causa do comportamento agressivo. Nada disso. Brittany pediu demissão do trabalho no filme porque seus produtores, porto-riquenhos, não entendiam o estilo de interpretar da atriz.
Mas a pior mentira de Veja está em relação ao filme Algo Maligno (Something Wicked) - filme que pode estrear na TV paga brasileira no próximo ano - , de que os produtores reduziram as cenas de Brittany porque ela não conseguiu decorar os diálogos e sofria confusão mental.
Em primeiro lugar, Algo Maligno (título em português adotado há pouco tempo) só foi finalizado anos depois. Segundo, o diretor Darin Scott e o roteirista Joe Colleran afirmaram que a atuação de Brittany no filme foi brilhante e surpreendente, e chegaram a se comover quando participavam da montagem do longa-metragem de suspense.
Eles corroboraram a declaração dos produtores Frank Miller - autor da HQ e da própria adaptação cinematográfica de Sin City - e Robert Rodriguez, que não escalaram outra atriz para fazer o papel de Shelly em Sin City 2 - A Dama Fatal (Sin City 2 - A Dame To Kill For), que definiram a interpretação de Brittany como única e por isso insubstituível.
Só um detalhe: a Brittany acusada de "confusão mental" gravou Sin City em um único dia, com uma desenvoltura que encantou Frank e Robert, além dos demais envolvidos com o filme. Fora esses exemplos, há também declarações de Dakota Fanning e Ashton Kutcher que também comprovam o excelente talento e o admirável caráter da colega.
Além dessas inverdades, Veja cometeu uma desinformação: Brittany não chegou a filmar o filme Os Mercenários (The Expendables), do qual foi escalada, porque a agenda de filmagens acertada em última hora chocou com os compromissos da atriz, que foi imediatamente substituída por outra.
A mídia sensacionalista, dessa forma, além de desmoralizar, desinforma. É o mau jornalismo de Veja que, no Brasil, repercute tão mal que, dias atrás, um protesto organizado por um grupo de jovens ativistas pichou instalações e placas na sede da Editora Abril além de despejar um monte de lixo no portão de entrada.
Com certeza, Brittany Murphy não teria gostado da reportagem de Veja.
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