As leis eleitorais dos Estados Unidos da América são muito bizarras. A dita "maior democracia do mundo" tem na votação popular uma importante consulta para avaliar os candidatos à Presidência da República. Mas nem sempre um candidato mais votado ganha o cargo, já que eventualmente o Colégio Eleitoral, que decide a vitória de um presidenciável, diverge do voto popular.
Isso ocorreu há 20 anos, quando o vencedor democrata Al Gore perdeu a conquista do cargo presidencial para o republicano George W. Bush. Mas a própria vitória de Hillary Clinton, há quatro anos, parecia certa se não fosse uma ajudinha de Steve Bannon para garantir a vitória de Donald Trump em Estados considerados estratégicos, como no Sul dos EUA.
Diante disso, há uma hierarquia de Estados estadunidenses que pesam mais na eleição de um presidenciável do que outros. Estados como Flórida, por exemplo, são mais influentes. No caso da campanha atual, Joe Biden está com ampla vantagem de 40 pontos entre os delegados eleitos, 253, contra 213 de Donald Trump, o atual presidente dos EUA que busca se reeleger no cargo.
O Estado da Geórgia, cuja capital é Atlanta - cidade natal de Brittany Murphy - , com as urnas eleitorais verificadas em 98%, Joe Biden teve uma vantagem de apenas 0,1% contra Donald Trump, o que fez com que se decidisse, de acordo com a legislação estadual, para a recontagem de votos. Trump, aliás, havia pedido recontagem de votos nos demais Estados por duvidar de que possa ser derrotado pelo rival democrata.
Com dezesseis delegados, o Estado da Geórgia, se manifestar favoritismo para Joe Biden, pode ajudar a se aproximar do número mínimo de delegados necessários para torná-lo vencedor, que é de 270. Ou seja, a Geórgia, lhe oferecendo dezesseis delegados, faria Biden ficar com 269. Outros Estados, como Nevada, Pensilvania e Wisconsin, com virtual vantagem para Biden, se confirmarem essa tendência, poderão garantir a vitória do democrata.
O confuso processo eleitoral dos EUA nem se deve pelo não uso da urna eletrônica, mas por critérios diversos que complicam a contagem de votos, como o envio de votos pelos correios que nem mesmo a votação antecipada conseguiu resolver. Além disso, as contagens são lentas e também não há muita preocupação em agilizá-las.
Desconfia-se que isso seja feito de propósito, porque os EUA, espécie de "paraíso" da chamada "sociedade do espetáculo", ao prolongar a contagem dos votos, cria o suspense necessário para alimentar o showrnalismo da grande mídia, transformando a corrida presidencial num verdadeiro reality show - na ironia de Donald Trump ter apresentado um programa do gênero, O Aprendiz (The Apprentice) - , para o bem da visibilidade dos âncoras e comentaristas jornalísticos e da agenda temática que movimenta a grande mídia estadunidense.
Em todo caso, o suspense foi criado e há a expectativa de que Joe Biden será mesmo eleito presidente dos EUA. Há uma tendência de vários setores da sociedade dos EUA, como a classe média (nos conceitos trazidos pelo sociólogo brasileiro Jessé Souza), setores das classes trabalhadoras, o mercado financeiro, o mainstream político e até mesmo as elites big tech do Vale do Silício, defenderem Joe Biden.
Em todo caso, o comportamento grosseiro de Donald Trump e os boatos de que foi sob seu governo que laboratórios supostamente associados deixaram explodir a pandemia da Covid-19, além do seu projeto político não ter trazido benefícios para os estadunidenses e o presidente ameaçar controlar as instituições, ameaçando centralizar o seu poder, faz com que os cidadãos dos EUA não desejem novo mandato para o ex-apresentador de O Aprendiz.
Curiosamente, sua atuação como presidente da mais poderosa nação do mundo, em outros tempos, era apenas uma sarcástica piada do seriado Os Simpsons. Daí que Donald Trump, cuja vitória foi impulsionada pela máquina de fake news de Steve Bannon e sua Cambridge Analytica, simbolizou o período obscurantista de 2016-2018 - que no Brasil foi marcado pelo golpe político-jurídico contra Dilma Rousseff e pela eleição de Jair Bolsonaro, admirador de Trump - do qual mesmo a direita liberal deseja se livrar, vendo que o anti-progressismo nas Américas havia ido longe demais.
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